quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Amazônia: Crise Mundial, Projetos Globais e Interesse Nacional

Estudo desenvolvido para CGEE - Centro de Gestão e Estudos Estratégicos


Bertha K. Becker

A Amazônia não é só uma questão regional – é também nacional, continental e global. Tem uma história e uma geografia diferente daquelas do Brasil após a colonização europeia. Foi e é uma fronteira-mundi, com processo de ocupação mais tardio e com maior abertura para o exterior do que o do Brasil. Faz parte de sua história o contato contínuo com os grandes avanços da ciência e da tecnologia que impulsionam a economia-mundo desde o século XV, mas avanço esse sempre servindo a interesses externos à região,que foi incorporada aos processos globais como periferia exportadora de recursos.
A partir da década de 1990, é o mercado mundial unificado e não mais o mercado doméstico que impulsiona a fronteira móvel em direção à Amazônia,que teve seu tempo acelerado e sua escala ampliada. Na primeira década do novo milênio a região consolida-se como grande produtora e exportadora de carne e soja, enquanto a destruição do cerrado e das florestas de transição e ombrófila aberta alcançou, respectivamente, 40% e 50%.
É preciso, portanto, sustar a continuidade do modelo baseado na economia de fronteira. O desenvolvimento e a integração efetiva da Amazônia no Estado Nação brasileiro requerem hoje conhecimento científico e tecnológico de ponta, mas com o olhar para ela direcionado. Essas condições são hoje possíveis graças à revolução científico-tecnológica que a partir dos anos 1970 valorizou duplamente a natureza amazônica – como capital natural e como condição de sobrevivência do planeta –, e criou possibilidades de lidar com esse fantástico patrimônio com novas formas de produção.
Mas se C&T/I tiveram acentuado seu poder nas decisões e ações sobre o planeta, num aparente paradoxo, frente à crescente velocidade e incerteza dos processos globais, a ciência não consegue mais acompanha-los on line.
Tal contexto incide na Amazônia numa complexidade que torna difícil discernir os projetos propostos para seu desenvolvimento, seus eventuais conflitos e parcerias. Mas a ciência pode e deve identificar com clareza os atuais projetos para a região – explícitos ou implícitos – para informar os movimentos sociais, a sociedade e a tomada de decisão de políticas públicas. A crise ambiental focada na mudança climática e a economia verde como solução para o problema e foco da Rio +20, são difundidas a velocidade tal que dificulta uma reflexão maior sobre o interesse nacional e regional na adoção desses modelos. Interesse nacional entendido com princípios para alcançar o bem-estar da nação. Acresce que não há como desvincular a crise ambiental da crise financeira que abala os países centrais.
Certamente há urgência em conter o desflorestamento na Amazônia e encontrar um caminho digno para o seu desenvolvimento e, certamente, também, há diversos modos de alcançar esse objetivo. A reflexão sobre proposições globais, portanto, se impõe.
O objetivo deste texto é justamente efetuar uma reflexão sobre os efeitos na Amazônia e o interesse nacional quanto a dois projetos globais: “desmatamento evitado” (REDD) e  “economia verde”. A primeira seção do texto discute criticamente o projeto de” desmatamento evitado” como um projeto preservacionista que propõe a preservação das florestas, mantendo-as em pé, mas improdutivas. Na segunda seção, procura-se entender o significado da economia verde – expressão que apresenta múltiplas definições – questionando-a do ponto de vista do interesse nacional. Uma terceira seção apresenta proposições de um novo padrão de desenvolvimento para a Amazônia capaz de manter as florestas em pé mas produtivas sem sua destruição maciça, em benefício de suas populações.


1.    REDD, Projeto Preservacionista : Floresta em Pé Improdutiva  

Após a Rio-92 dentre as convenções internacionais criadas para tentar contar a degradação do planeta ressaltou a da conservação da biodiversidade e, hoje, a ênfase é sobre a mudança climática. Preocupações com o clima e a biodiversidade se integram em torno da preservação das florestas tropicais. Projetos globais com essa finalidade foram elaborados para apresentação na
reunião sobre o clima realizada em Copenhagen (2009) no contexto da revisão do Protocolo de Quioto (1997) e vem sendo amplamente difundidos.
No extremo oposto do projeto da continuidade em derrubar a floresta e substituí-la por pastagens e lavouras, situam-se propostas globais de pagar para não desflorestar envolvendo a mercantilização do carbono.
A necessária pressa em conter o desflorestamento, não deve impedir uma avaliação cautelosa desse projeto extremamente sedutor pelo financiamento que oferece. Concebido há anos, tem tido uma extraordinária difusão e, no Brasil, crescente apoio de governadores e parte dos pesquisadores e empresários que pressionam o governo a seu favor, exigindo atenta análise para compreender e avaliar sua dimensão política.

1.1. A Outra Face da Globalização


Os projetos globais não são uma iniciativa nova e isolada do contexto histórico, como se poderia pensar. Essa iniciativa corresponde à outra face da globalização e dos avanços da ciência, inserindo-se no processo político que tenta organizar uma governança global – inclusive sobre o meio ambiente – acentuando a politização da natureza, bem como no processo econômico de mercantilização de novos elementos da natureza. O valor econômico desses elementos é patente no reconhecimento da natureza como capital natural (Daly & Farley 2000). Mas o processo social que gera e viabiliza esse valor é explicado por Polanyi (1944).
Em seu livro de The Great Transformation: The Political and Economic Origins of Our Time (1944), Karkl Polanyi assinalava a comercialização da terra, do trabalho e do dinheiro, inexistente no mercantilismo, como pré-condição da economia de mercado que emergiu no século XIX com a industrialização, subordinando a sociedade, de alguma forma, às suas exigências.
Acontece que trabalho, terra e dinheiro não são mercadorias e objetos produzidos para a venda no mercado. Trabalho é apenas um outro nome para a atividade humana que acompanha a própria vida, que não é produzida para a venda e não pode ser armazenada. Terra é apenas outro nome para a natureza, que não é produzida pelo homem. O dinheiro é apenas um símbolo do poder de compra e, como regra não é produzido, mas adquire vida através do mecanismo dos bancos e das financeiras.
Não obstante, foi com a ajuda do que o autor denominou de ficção que se organizaram os mercados reais de trabalho, terra e dinheiro. A ficção de que são produzidos para a venda, tornou-se o principio organizador da sociedade, alterando sua própria organização; todavia, para impedir que o mecanismo de mercado fosse o único dirigente do destino dos seres humanos e da natureza, criaram-se contramovimentos sociais, assim como medidas e políticas integradas do Estado em poderosas instituições para protegê-los, cerceando o mercado.
Desde o final do século passado dilata-se a esfera da mercadoria e novas mercadorias fictícias vem sendo criadas como é o caso da vida, do ar e da água (Becker, 2001, 2005 e 2009a). E uma novidade histórica emergiu no uso da natureza pelo homem. Há séculos os homens utilizam elementos da estrutura dos ecossistemas – estrutura que é o resultado de interações de elementos bióticos e abióticos – correspondentes às matérias primas; mas, hoje, tenta-se utilizar também as funções dos ecossistemas a que se atribui valor econômico denominadas de serviços ambientais ou ecossistêmicos.
É nesse contexto que se deve avaliar os projetos globais para as florestas tropicais visando atenuar o aquecimento global. O mais emblemático e difundido é o REDD – redução de emissões por desflorestamento e degradação. Há consenso de que deve ser desenvolvido em três fases considerando que a construção de uma metodologia para medir, relatar e verificar sua implementação deve avançar progressivamente. Na primeira fase, que demanda o desenvolvimento de uma estratégia nacional de REDD, o projeto terá contribuições voluntárias imediatamente disponíveis como aquelas administradas pelo Forest Carbon Partnership Facility do Banco Mundial, o REDD das Nações Unidas e outros arranjos bilaterais; a fase 2 corresponde à implementação de políticas e medidas propostas nas estratégias nacionais apoiadas por um fundo global baseado num instrumento legal de financiamento com compromisso, como por exemplo leilões de permissões; a fase 3 corresponde ao pagamento por performance medida através de indicadores de redução de emissões ou outros - como diminuição da área desmatada -, quantificados em relação a níveis de referência. Esse pagamento poderia ser financiado em grande escala através da venda de unidades de REDD em mercados oficiais globais ou mecanismos fora do mercado. Deve permitir a geração de créditos pelos resultados da continuidade de políticas e medidas iniciadas na fase 2 (Mozzer, 2009).
Mais recentemente passou a proposta a denominar-se REDD+ aliando-se a ações de conservação e manejo florestal. Proposta alternativa, mas sem a mesma difusão é o PINC, do Global Canopy Programme. O PINC se apresenta como um investimento pró-ativo em capital natural. Consiste em um sistema para premiar economicamente extensas áreas de florestas tropicais intactas que atuam como “global utilities” provendo vários serviços ambientais. Não está, portanto, relacionado à redução de emissões do carbono – ele busca atrair fundos diretamente para as florestas, que absorvem e estocam carbono, criam chuva, moderam condições do tempo e mantém a biodiversidade, benefícios dos quais usufruímos e não pagamos. E já que os serviços ambientais são bens públicos, a comunidade internacional deve pagar.
As propostas do PINC afirmam que o REDD apresenta o risco perverso de incentivar países com baixas taxas de desflorestamento a aumentá-las. Prevê também ajuda à construção de capacidades locais e às comunidades, mas acredita que de forma menos onerosa do que o REDD. Os pagamentos podem vir de fontes públicas ou privadas, ou da combinação das duas, direcionados, além das florestas nativas, para áreas protegidas, eco-certificação e seguro para áreas-tampão, como é o caso das margens do canal de Panamá, para conter eventuais invasões marinhas.

1.2. Questionamentos


Questionamentos políticos, econômicos e metodológico-científicos devem ser colocados sobretudo ao projeto REDD e REDD+, tal como a seguir apresentados (Becker, 2009):
1) Interesse nacional ou não, em incluir as florestas em pé nas transações econômicas. Como é do conhecimento de todos, o Brasil vem mantendo posição firme, desde o Protocolo de Quioto (1997), que inaugurou os esforços para regular os problemas do excesso de emissão de CO2. Baseado no princípio da responsabilidade comum mas diferenciada, argumenta o Brasil que os países industrializados têm responsabilidade histórica na poluição da atmosfera (em torno de 71% por ocasião de Quioto) e, portanto, cabe a eles aplicar metas para redução de emissões de carbono, mas não aos países periféricos, cujas emissões são mais recentes e menores. Esses últimos deveriam receber recursos de um fundo global para impedir que passassem a ampliar suas emissões. Foi com esse sentido que o Brasil propôs a criação do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) no Protocolo de Quioto pelo qual os países centrais podem comprar créditos de carbono nos países periféricos que entram em sua contabilidade de emissão. Mas é necessário frisar um segundo ponto importante da posição brasileira: as florestas nativas, em pé, não podem ser incluídas no MDL, mas tão somente ações desflorestamento e de reflorestamento.
REDD e PINC, pelo contrario, oferecem pagamento para preservação das florestas em pé, nativas. A recusa do Brasil em incluir as florestas nativas explica-se pelo risco de ingerência externa, ou seja, de privatização das decisões sobre o uso de grandes extensões de terra, que corresponderia ao controle do território. Tampouco não há como conter o desmatamento no país com base apenas em financiamentos externos.

2) Incertezas científicas e metodológicas. É difícil mensurar a quantidade de carbono contida nas florestas e na vegetação em geral, e o custo do não desflorestamento e da não degradação tem que ser calculado localmente. Há, assim, o risco de dissociar os cálculos científicos do seqüestro do CO2 e as negociações destinadas a valorar o pagamento de SAs ou a atribuir créditos de carbono.
Estudos recentes do Instituto Nacional de pesquisas Espaciais (INPE) do Brasil, revelam que o desmatamento da Amazônia brasileira contribui aproximadamente com 2,5% das emissões globais de GEEs responsáveis pelo aquecimento global segundo um cálculo preliminar. O volume de carbono é enorme, mas proporcionalmente menor do que os 5% das emissões globais que se imaginava. Tampouco é questionável a afirmativa de que o desmatamento acumulado no mundo produz 20% das emissões globais de GEEs; este é um dado superestimado pela Fundação das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que adota como média para o Brasil um desmatamento anual de 30 mil Km2, muito acima do real, em torno de 18.000Km2 nos últimos 20 anos. Não há base científica confiável para os 20%. Tais considerações não reduzem em nada a necessidade de estancar o desmatamento, mas diminuem, sim, o efeito que possam ter sobre a mudança climática na escala global. Essas são observações do Diretor do Observatório da Terra / INPE (Câmara, 2009).
Incertezas existem ainda quanto às próprias oscilações climáticas de longo termo que influem no tamanho da camada de ozônio (Becker, 2001; Aubertin et Damian, 2009).

3) REDD não é mecanismo de solução para o processo de desmatamento, e sim de compensação de emissões para os países centrais que podem tentar reduzir o montante de suas quotas mediante financiamentos de desmatamento evitado. Até a conferência de Bali (2007) o princípio de financiamento do carbono não estava em pauta. A partir daí, a questão da biodiversidade ligou-se à da mudança climática e passou a mobilizar numerosos grupos de pressão já ativos na Convenção sobre Biodiversidade, e a Convenção do Clima torna-se uma tribuna de reivindicações identitárias. O REDD apresenta-se em Bali como desenvolvendo uma abordagem política – não somente preocupado com as mudanças climáticas, mas igualmente com a pobreza e a conservação dos serviços ambientais. Consegue, assim, captar novas fontes de financiamento misturando fundos públicos a fundos privados, e apelando para o mercado do carbono e outros. Propõe-se a implantar inventários florestais e reforçar a capacitação local, o que seduz os provedores de fundos.
O REDD não é, portanto, um mecanismo que atue no processo de redução das emissões de carbono mas, no máximo, de prevenção das emissões mediante a abstenção voluntária de emiti-lo. E as políticas de estabilização das emissões não podem ser confundidas com as políticas de atenuação – podem ser consideradas como de compensação ou de sustentação da conservação (Aubertin et Damian, 2009).

4) Reduzir os serviços ambientais à emissões do carbono é uma valoração extremamente limitada do fantástico potencial de serviços propiciados pela floresta. E manter as florestas improdutivas implica no risco de reproduzir o secular padrão de ocupação da Amazônia baseado na exportação de recursos sem agregação de valor, a baixos preços, que quase nada deixaram na região. Desta feita, é o próprio ar que está em jogo, e novamente a baixos preços nos mercados já existentes de créditos de carbono: o mercado de Quioto, o oficial porém mais fraco deles, o de Chicago, e o da União Européia.

5) Outro importante questionamento ao REDD segundo o interesse da Amazônia e do Brasil, é quem vai receber e se beneficiar com o pagamento para evitar o desflorestamento – o governo federal, os governos estaduais e os grandes produtores estão cada um deles se considerando os merecedores. Trata-se da floresta como ativo financeiro, gerando grandes lucros para poucos atores. A experiência da Fundação Amazonas Sustentável (Estado do Amazonas) mostra que os benefícios vão para o setor financeiro – no caso o Bradesco e a cadeia de hotéis Merriot – um pouco para o governo do estado, enquanto as bolsas oferecidas às populações extrativistas para defender a floresta, não passam de R$ 30,00/ano!
O pagamento para não desflorestar implica em manter as florestas sim, mas improdutivas e impedindo a geração de riqueza, emprego e renda, o que mais necessitam as populações extrativistas. A escassez de emprego decentes é, aliás, a questão central da humanidade. A projeção do Banco Mundial para a população ativa da Terra em 2050, inclusive sub-emprego e desemprego, é de que ela passará de 2,9 bilhões para 4 bilhões, dos quais 90% localizados nos paises emergentes (Banco Mundial, 2007). Empregos que, certamente não serão providos pela economia de baixo carbono, “verdes”.

6) O problema do desflorestamento da Amazônia só será resolvido com um novo paradigma de desenvolvimento (Becker, 2004). E o da degradação do planeta somente com um novo regime de acumulação. Em vinte anos de negociações nas convenções sobre o clima e a biodiversidade, passou-se de uma questão do meio ambiente a uma questão de desenvolvimento sustentável, de justiça redistributiva entre Norte e Sul, de construção de um novo regime de crescimento econômico. A mudança de paradigma traduz-se hoje em termos de crescimento verde ou bioeconomia na luta contra a depressão econômica; passar de uma questão ambiental e de poluição ao horizonte de um novo regime de acumulação, a partir de um paradigma tecno-econômico mais verde, coloca-se como o desafio maior (Aubertin et Damian, 2009). E das próprias políticas climáticas passa-se à idéia que um desenvolvimento mais sustentável pode contribuir fortemente para a atenuação da mudança climática (IPCC, 2007:21).
Mas, a questão é complexa.Serão o meio ambiente e seus problemas   externalidades a serem incluídas no sistema econômico? Parece que o tratamento desses problemas  deve ter uma visão mais ampla, para envolver necessariamente as grandes estruturas da economia, bem como a sustentabilidade, a segurança e a prosperidade renovada.
Atribuir um preço ao carbono é necessário, mas não suficiente, da mesma forma que é insuficiente a análise econômica convencional. Requer-se uma economia política avançada. A internalização de uma externalidade negativa leva à modificação de um único preço, mas a luta contra a degradação do ambiente implica mudar os preços relativos do conjunto da economia, modificar as relações industriais e, portanto, as próprias estruturas econômicas. (Aubertin, C. e Damian, M. ,2009.).
Restrições a embarcar no REDD como panacéia para conter o desmatamento e reduzir o aquecimento global não significam, de forma alguma, deixar de lado a contenção não só do desmatamento atual, como futuro.
Há, portanto, que atuar no conjunto da economia, o que não é de modo algum trivial. O governo brasileiro, hoje, flexibilizou sua posição sem, contudo, alterar sua essência. Aceita negociar o REDD como um mecanismo auxiliar de financiamento, mas não como um mecanismo compensatório. Ou seja, os países desenvolvidos poderiam financiar projetos de conservação e até obter créditos de carbono, mas não utilizar esses créditos para compensar suas próprias emissões; seria uma saída fácil para os países desenvolvidos cumprirem suas metas sem precisar reduzir substancialmente suas próprias emissões. E no processo de negociação global o Brasil assumiu voluntariamente metas para redução da emissão de gases de efeito estufa entre 36,1 e 38,9% das emissões estimadas para 2020, compromisso que foi, finalmente, consolidado em lei (29/12/09).
O que parte da sociedade brasileira vem propondo é um esforço para mudar o padrão de desenvolvimento influindo nos processos responsáveis pelo desmatamento e não só imobilizando as florestas.


2. Economia Verde e Interesse Nacional

Na medida em que os conceitos são construções rigorosas do pensamento, a economia verde (EV) não é um conceito. Assim como o desenvolvimento sustentável, aliás. A expressão vem sendo utilizadas com diferentes definições ou sem definição, e mesmo nas publicações recentes das Nações Unidas que promovem a sua rápida difusão elas diferem, e se reconhece que não há uma definição única para o que denominam de conceito (UN, 2011).
Além das Nações Unidas, várias iniciativas internacionais têm realizado análises e proposições para enfrentar os desafios do meio ambiente e desenvolvimento. Nominando ou não a economia verde, esses documentos têm uma base comum cujos pontos principais valem ser destacados (UNEP, 2012; Blue Planet Prize laureates, 2012).

2.1. Economia Verde, Uma Incógnita ?

De acordo com um dos documentos das Nações Unidas (UNEP, Hacia una Economia Verde, 2011 ,os objetivos da EV seriam os mesmos do desenvolvimento sustentável :
“Não há uma definição única de economia verde mas, embora imprecisamente definida, há ampla concordância sobre a idéia básica a ela subjacente de que melhorar o crescimento econômico, o progresso social e a gestão ambiental podem ser objetivos estratégicos complementares e que possíveis conflitos entre eles no processo de sua realização podem ser superados”.
“Nesse sentido, o foco do conceito é plenamente consistente com o desenvolvimento sustentável elaborado pelas Nações Unidas, que percebe as dimensões econômica, social e ambiental como os três pilares do desenvolvimento e que frisa a importância de equidade intergeracional no desenvolvimento”.
Embora a EV não tenha um conceito claro, é crucial um esforço para sua compreensão e definição de modo a melhor se posicionar frente ao que ela propõe.
Reconhecem, as Nações Unidas e outras organizações e pesquisadores adeptos da EV, que o problema central é mudar o caminho atual de desenvolvimento por ser ele incapaz de conduzir a um mundo que se deseja que ambientalmente, socialmente e economicamente sustentável. Frente a sua emergência, é imperativa uma ação eficaz para construir um novo tipo de sociedade global.
Um mundo mais sustentável deve ser baseado na tríplice interdependência de fatores econômicos, sociais e ambientais, os famosos três pilares do desenvolvimento sustentável. Trata-se de promover crescimento econômico no quadro dos constrangimentos da sustentabilidade social e ambiental. Frisa-se o desafio para vários países de como gerir os recursos naturais de modo a contribuir para aliviar a pobreza mantendo o sistema ecológico de suporte à vida.
Os dois maiores problemas citados a serem solucionados são a mudança climática rumo a um aquecimento global, e a perda de biodiversidade Seus maiores motores são: a) demográfico, referente ao crescimento e envelhecimento da população mundial; b) crescimento econômico sem controle num planeta finito. Nesse sentido reconhece-se a séria limitação do PIB que não considera outras formas de capital – natural, humano, social e institucional/financeiro-, bem como a falha do sistema econômico em não internalizar externalidades ambientais e em não prevenir financiamentos para atividades com alta emissão de carbono; c) tecnologia, ressaltando a dependência à energia fóssil e o uso ineficiente de “end-use technologies”, que provocam grande concentração atmosférica de dióxido de carbono; d) sociopolítico, referente a problemas nos sistema de decisão governamentais, de negócios e da sociedade, exigindo mudança na governança com ações em várias escalas evitando, inclusive, a tendência à formação de plutocracias corporativas, como as do petróleo; e) cultural/religioso, que influi na desigualdade de acesso a alimentos e outros recursos através de escolhas de atividades e de produção será necessários o redesenho do sistema econômico, uma revolução tecnológica e a mudança comportamental.
A economia mundial, dizem, tem o risco de prolongado declínio em consequência das crises econômico-financeiras dos últimos anos. O crescimento com baixo carbono é considerado a única base sólida para uma recuperação sustentável. A forte redução das emissões necessária exige uma nova revolução industrial, rumo à eliminação dos combustíveis fósseis, para o que são necessárias combinações de recursos energéticos end-use e tecnologias de suprimento que possam enfrentar simultaneamente os múltiplos desafios da sustentabilidade. Tais combinações tem em comum duas feições: i) melhoria radical na eficiência energética end-use e ii) deslocamentos significantes para sistemas de suprimento de energia com ênfase em energia renováveis e em sistemas avançados de combustíveis fósseis com captura e estocagem de carbono (CCS) já existentes em projetos pilotos através do mundo, embora com custo elevado.
Vale registrar que tecnologias para energia eficiente e para energia renováveis serão poderosas competidoras. Acresce que a transição para uma economia de baixo carbono é muito lucrativa, razão pela qual a liderança sobre a questão climática está mudando das negociações internacionais para firmas, governos nacionais e subnacionais, e sociedade civil.
Quanto á perda de biodiversidade e degradação dos serviços ambientais sugere-se que poderão ser sustadas com planejamento integrado baseado em dados adequados, rede de áreas protegidas bem gerida, melhor conhecimento científico e tecnológico da conservação de áreas agrícolas, mapeamento e avaliação de serviços ecossistêmicos. È considerada essencial a transformação nos setores público e privado para atribuir valor ao capital natural no desenvolvimento econômico, incorporando às contas nacionais, os benefícios e custos da conservação dos ecossistemas que devem ser divididos de modo equitativo. A biodiversidade e os serviços ecossistêmicos precisam ser entendidos como os mais fundamentais componentes do desenvolvimento econômico verde, cujos serviços exportados e importados devem ser incluídos num sistema de contas da riqueza.
O último documento das Nações Unidas(UNEP, 02/2012)apresenta o resultado de uma pesquisa realizada por 20 cientistas e com a contribuição de mais 400 obtida eletronicamente,sobre as 21 questões ambientais emergentes no século XXI.Encabeçaram os cinco primeiros lugares da lista : 1)Alinhando a governança para os desafios da sustentabilidade global; 2)Transformando as capacidades humanas para o século XXI ( para mover rumo á EV) ; 3)Novos desafios para assegurar segurança alimentar  a 9 milhões de pessoas ; 4)Reconectando ciência e política ; 5)Limiares sociais? ( necessidade de rápida e transformadora mudança no comportamento humano em relação ao meio ambiente.
Em síntese, tais proposições serão trazidas à Rio+20 pelos países desenvolvidos.Cabe efetuar  sua análise e uma profunda reflexão a respeito  segundo os interesses nacionais dos Estados Nação.


2.2. Questionamentos Frente ao Interesse Nacional [1]
A economia verde, ou seja o mercado e a governança global aparecem como essenciais nos diversos documentos. Vale registrar que o Brasil é contra um organismo global para gerir o meio ambiente. Os problemas apontados são basicamente os mesmos,  NÂO se citando o papel do sistema econômico vigente nesses problemas. E a ciência é convocada a dar soluções.

Em nosso entender a EV pretende ser um paradigma econômico para abrir novas frentes de investimento necessárias à superação das crises econômico-financeira e ambiental do sistema capitalista - sobretudo da Europa - e à garantia de sua expansão mediante ganhos de escala e de lucro no curto prazo. Trata-se de aprofundamento do processo de mercantilização,melhor dito de financeirização, envolvendo agora o capital natural bem como os equipamentos urbanos necessários á reprodução social. E vale a pena lembrar que as extensões restantes de capital natural estão localizadas em países periféricos, ou em desenvolvimento.
 A preocupação com a expansão do consumo decorrente do crescimento dos países em desenvolvimento parece ser tambem um elemento a preocupar os países ricos na emergência do novo paradigma, assim como o foi na proposição do Desenvolvimento Sustentável (DS).
Grosso modo, o cerne da EV consiste na redução do consumo de energia e de matéria prima por unidade de produto e na redução das emissões de gases de efeito estufa (GEEs), sobretudo o carbono (CO2), para o que, verdadeira revolução tecnológica é necessária.
À tal conceituação, estabelecida a partir de várias propostas, estão associados vários processos. Do ponto de vista do Brasil, do interesse nacional , pelo menos duas facetas – de oportunidade e de risco – devem ser frisadas.
 Por um lado, a oportunidade de uma salutar orientação da economia para redução do desperdício no uso de recursos, desperdício que é uma problemática perversa constante na história do país. A EV, ao valorizar o capital natural, oferece a oportunidade para implementar um novo modo de utilização do território e do patrimônio natural nele contido, que constitui grande potencial de desenvolvimento. As grandes inovações tecnológicas no Brasil tem estado associadas à valorização do capital natural como, por exemplo, o aproveitamento do cerrado na década de 1970, a exploração do petróleo em águas profundas e a transformação da cana de açúcar em etanol. Tais avanços indicam que no caminho de desenvolvimento do país, a economia do conhecimento da natureza, tem um papel central, podendo lhe atribuir uma vantagem competitiva no contexto global, sem excluir outras iniciativas.
Por outro lado, a descarbonização da economia, certamente desejável, pode apresentar riscos para países como Brasil quando adotada acelerada e indiscriminada, porque depende de tecnologias avançadas que requerem recursos técnicos e financeiros só disponíveis atualmente nos países mais ricos e que, ademais, não podem ser aplicadas a todos os setores da economia.
A mercantilização dos elementos da natureza é feita sob uma promessa encoberta de que a transição para uma economia de baixo carbono acabaria com a pobreza dos países em desenvolvimento. Na verdade, essa transição exige investimentos para geração e difusão de tecnologias mais limpas que tendem a ser cada vez mais complexas e que estão fortemente concentradas em países desenvolvidos e cuja transferência acarretará a acumulação de onerosas dívidas para os países em desenvolvimento. Ou seja, não haverá redução das desigualdades.
A transferência de tecnologia é de fato um ponto sensível. Apesar de continuamente reiterada em acordos internacionais, na verdade, raramente é concretizada. Pode facilmente se transformar apenas numa oportunidade de negócios para países produtores de tecnologias ecoeficientes. Além disso, no caso do Brasil, não se trata mais apenas de investir nessa transferência, mas sim, sobretudo, de promover a inovação tecnológica.
Novas tecnologias são cruciais para aproveitar sem desperdício os recursos naturais e para solucionar problemas sociais como, por exemplo, acesso aos serviços ecossistêmicos, aos equipamentos urbanos, entre outros, e reduzir desigualdades regionais. Inovação tecnológica para aprimorar e/ou recuperar componentes já existentes, porém mal cuidados da economia nacional como, por exemplo, tornar mais limpa sua abundante energia fóssil, o petróleo.
A inovação tecnológica é, assim, crucial para a melhoria das condições de vida dos países em desenvolvimento, tirando partido das janelas de oportunidade que se oferecem e das respectivas bases de recursos. Tornar verde a economia convencional não parece poder contribuir para alterar a divisão internacional do trabalho, em que o “Sul’ permanece rural, no máximo com indústrias em locais da Ásia, enquanto o “Norte” permanece com o domínio da revolução tecnológica. É digna de nota a omissão de C/T na publicação do PNUMA (2011), justamente numa síntese para os formuladores de políticas.
Resulta, assim, que sob a enxurrada de publicações difundidas em larga escala pelos diferentes organismos das Nações Unidas sobre as múltiplas dimensões da EV, é imperioso considerar a diversidade dos Estados Nação – ainda dominantes como unidades políticas no planeta –, seus respectivos interesses e estratégias nacionais decorrentes, para que não leve os países emergentes (e outros) a uma dependência tecnológica associada a um forte endividamento.
Parece claro que as estratégias do “Norte” são coincidentes com as das Nações Unidas. No mais, são claras as posições diferentes da Índia e da China. A Índia tem-se feito ouvir sendo, talvez, a responsável pela introdução da “erradicação da pobreza” no novo paradigma, e clama pela necessidade de relativizar proposições da EV frente à essa necessidade. Por exemplo, relatórios da UN, não consideram a escala de infraestrutura necessária para a erradicação da pobreza e o fato de que um bilhão de pobres não tem acesso à energia moderna, ou seja, não trata a dimensão social adequadamente nem tampouco a perspectiva dos países em desenvolvimento que são justamente aqueles em que o crescimento será maior. A Índia coloca ainda a questão central da mudança dos padrões de produção e consumo sem a qual, nada de novo acontecerá. Advoga que segundo a perspectiva dos países em desenvolvimento o desafio reside em conceber estratégias nacionais para o desenvolvimento da infraestrutura de erradicação da pobreza que também se oriente para uma economia e uma sociedade de baixo carbono , e não para os atuais focos estreitos em mitigação, adaptação e divisão da carga ecológica (Sanwal, M. 2010).
Quanto à China, seu caminho singular de crescimento tem um impacto transformativo modelando um novo paradigma focalizado em padrões de uso de recursos que, em princípio, podem ser adotados por todos os países (Sanwal, op. cit.). Há, contudo, que lembrar um outro fator chave para o crescimento verde na China: a tecnologia da informação e comunicação (TIC), que torna a infraestrutura mais eficiente, é subjacente às tecnologias para usar as energias renováveis,e serve para viajar menos se comunicando mais, e para reduzir a pegada ecológica (Zadek, S. 2011).
Tendências da economia contemporânea corroboram tal preocupação e a importância das estratégias nacionais (Belluzzo, 2011). No passado recente, saíram-se bem os países que souberam atrelar seus projetos nacionais de desenvolvimento à nova configuração da economia mundial proposta pelas multinacionais. Hoje, a concorrência capitalista revela a intensificação da rivalidade entre grandes empresas estimulada pela expansão do crédito e pela mobilidade do capital financeiro. “As novas formas de concorrência, apresentadas como benéficas à liberdade do comércio e à difusão do progresso técnico, escondem, na verdade, o contrário: um aumento brutal da centralização do capital, da concentração da riqueza e do progresso técnico...não se vive um mundo bem comportado de vantagens comparativas, mas sim num ambiente global em que prevalecem as economias de escala e de escopo, as externalidades positivas sendo criadas pelas políticas governamentais” (grifo nosso).
Cabe, assim, elaborar uma estratégia brasileira para enfrentar a mudança necessária nos padrões de produção e consumo, inclusive considerando as desigualdades sociais e regionais.


3.    Um Caminho Para o Desenvolvimento da Amazônia: Floresta em Pé Produtiva

Para a Amazônia, a questão que se coloca é: poderá a EV gerar um novo padrão de desenvolvimento para a região que, em termos de Amazônia Legal corresponde, convém lembrar, à metade do território nacional?
Deseja-se reiterar aqui, a importância de considerar as diferenças e de reduzir as desigualdades socioeconômicas e políticas.
Um pequeníssimo parágrafo apenas, no relatório do PNUMA, refere-se ao fato de que a transição para a EV será muito diferente para cada país. E, no entanto, as diferenças são reais, o que indica a necessidade de um desenvolvimento tecnológico com características de vocações próprias, e a não imposição de um padrão tecnológico único.
            O mesmo se aplica ao contexto nacional, em que congestionamentos decorrentes de excessos contrastam com fortes carências. Vale comentar, por exemplo, que para uma economia verde o transporte rodoviário de carga é um dos maiores vilões pelas emissões de gases de efeito estufa que emite. No caso do Brasil, contudo, trata-se de uma problemática da região Centro-Sul, para onde convergem as redes rodoviárias, pois que grande parte do território nacional carece de infraestrutura ( Fig 1)

Figura 1. Brasil: Logística dos Transportes – 2006.

Coloca-se, portanto, o desafio de equipar regiões e cidades com urgência e com formas mais adequadas das que vem sendo utilizadas até agora.
Nesse sentido, a contribuição da diversidade regional pode ser imensa para o desenvolvimento nacional sustentável, na medida em que as regiões oferecem diferentes recursos naturais que devem gerar combustíveis, materiais e modos de construção e gestão diferenciados. É o que parece estar fazendo a China quando estabelece metas compulsórias de redução de intensidade de energia para as províncias de acordo com o tipo de economia de cada província (Abranches, 2011).
Os zoneamentos ecológico-econômicos que vem sendo realizado nos estados brasileiros constituem importante fonte de informação para o planejamento do seu desenvolvimento.
A Amazônia Legal, correspondendo a mais da metade do território brasileiro, apresenta várias oportunidades para implementar um novo caminho de desenvolvimento (Becker, 2011), algumas das quais são apontadas a seguir.
São bem conhecidos os benefícios providos pelas florestas. Assim, sustar o desflorestamento é o desafio básico nas áreas florestais, para que se possa utilizar seus recursos sem destruí-los maciçamente como vem sendo feito. Cumpre estratégias diferenciadas para defesa do coração florestal, a extensa área de floresta densa ainda relativamente conservada, e para as áreas de floresta aberta já destruída em 50%. Por sua vez, no Cerrado, cresce uma importante produção de alimentos, mas sem agregação de valor, com uma pecuária ainda dependente de matrizes externas e cujas práticas extensivas vem derrubando a cobertura vegetal.
O cenário bussiness as usual, portanto, está muito aquém do que se espera em uma economia verde. O cenário desejado é conceber e implementar um novo modelo de desenvolvimento capaz de utilizar os recursos de modo sustentável para gerar renda e emprego para a população e riqueza para a região e para o país:
a) Nas florestas – valorizar a floresta em pé, valorizar os serviços ambientais, inovar em indústrias para aproveitamento de produtos do extrativismo não madeireiro (fármacos, alimentos, cosméticos) e madeireiro, este oferecendo o substrato para a construção civil nas cidades, alimentando uma indústria avançada até a produção de etanol pela celulose. A biomassa proveniente dos resíduos da produção – seja de não madeireiros ou de madeireiros – deve ser uma fonte de energia dada pela natureza. O aproveitamento múltiplo da água deve responder pelo transporte, pelo abastecimento humano, pela pesca e pela energia;
b) No cerrado – dar um passo adiante transformando o agronegócio em efetivo complexo agroindustrial, elevar a produtividade da pecuária, restaurar a vegetação e apoiar os pequenos produtores são objetivos importantes para o cenário desejado.
Um segundo quesito fundamental a ser considerado na Amazônia é a multimodalidade, que significa reduzir custos e crescer em eficiência, velocidade e adequação ambiental. Para tanto, três redes são básicas: a fluvial, a aérea e a de informação (Becker e Stenner, 2008). Pequenos trechos de ferrovia e mesmo de rodovia podem ser necessários. Exemplo é o caso da BR-319, retomada da rodovia que liga Porto Velho a Manaus, que em nada se justifica. É possível utilizar o trecho já aberto de Porto Velho até as barrancas do rio e a partir daí utilizar o transporte fluvial, gerando inclusive oportunidade para um ponto turístico na região. Implica em investimentos em tecnologia na área de engenharia naval, envolvendo a Marinha brasileira, cuja frota está bastante obsoleta, na diversificação e ampliação da malha aérea, tendo em vista também as conexões com os demais países amazônicos e investimentos na capilaridade, isto é, na extensão da conectividade para além dos grandes eixos para levar em conta também o mercado interno, uma “logística do pequeno”. Terminais multimodais são indispensáveis.
Finalmente, mas não menos importante, não há como promover um desenvolvimento digno da Amazônia sem cuidar de suas cidades. Equipa-las para exercer sua função de lugares centrais, prestadores de serviços para  consumo de seus habitantes e os de seus entôrnos, é uma parte apenas do problema. Criar as conexões entre elas de modo a inseri-las em redes , abrigando atividades complementares de produção e serviços para produtores, é condição sine qua non par alcançar esse desenvolvimento.
Desafios tecnológicos a enfrentar na região não podem ser esquecidos. Alguns podem ser lembrados : :
a) Nas florestas: tornar os rios navegáveis para que sejam o cerne da circulação na região, e renovar a frota civil e militar; inovar na hidroeletricidade e só construir hidrelétricas se associadas a um planejamento desde o início de sua concepção e complementar a produção de energia com novas fontes; desenvolver tecnologias para processamento de produtos não madeireiros e madeireiros, para tratamento e gestão de resíduos, produção de biomassa; construção civil; organizar cadeias produtivas; valorizar os serviços ecossistêmicos; criar cidades dinâmicas.
b) No Cerrado – tecnologias para produção de matrizes para processamento industrial, armazenagem, enfim logística –, e tecnologias que permitam a coexistência ambientalmente adequada da agropecuária, bioenergia e reflorestamento.
As florestas constituem um segmento econômico com um dos mais baixos custos para a redução de emissões de GEES, e a redução nas taxas de desmatamento pode ser obtida em tempo relativamente curto, o que somado aos benefícios que oferece. Segundo alguns, por essa razão é o (ou um) setor prioritário para receber investimentos relacionados com a economia verde (Viana, V. 2011). Tendo em vista que a utilização do potencial de petróleo e gás geraria quase o dobro de emissão do desmatamento previsto para 2050, sugere-se uma alternativa para reduzir as emissões seria a compensação das emissões de carbono oriundas do petróleo em atividades de conservação e manejo florestal (Viana, V. 2011). Contanto que esses recursos sejam utilizados para a inovação tecnológica nas atividades produtivas, dever-se-ia acrescentar.
Quanto ao Cerrado, trata-se de tirar partido do potencial agropecuário com um grande esforço de inovação tecnológica. No mundo, o setor agropecuário é tido como aquele no qual as forças de mercado são o determinante principal da mudança técnica, sendo comum inovações introduzidas por grupos de pressão ou produtores rurais. A indução rumo à inovações deve ser perseguida pelo Estado.
Para tanto, impõe-se a renovação do quadro institucional.Sugerem-se como  novos arranjos produtivos institucionais  :
 i) Instituto do Coração Florestal, agregando instituições que contribuam para fortalecer um pensamento estratégico amazônico, até hoje não existente;
ii) Parques Tecnológicos, reunindo instituições que pesquisem a biodiversidade e efetuem sua aplicação, um na floresta outro no cerrado;
 iii) Madeiramazon, arranjo destinado a organizar a cadeia de produção da madeira.
É viável, inclusive, pensar no interesse e viabilidade de implantar esses arranjos em nível da Amazônia Sul-Americana.


Bibliografia consultada:
Abranches, S. – 20/09/2011 – China no caminho da economia verde? http://envolverde.com.br/
Aubertin,C et  Damian, M – 2009 De La protection de l’environment a  um noveaux modele de croissance.La Documentation Française, Paris
Becker, B. K. 2005. Amazônia: Desenvolvimento e Soberania, In: Brasil, o estado de uma nação. Ed. Rezende, F. e Tafner, P. IPEA: Rio de Janeiro, p. 199-249..
Becker, B. K. 2009. Articulando o complexo urbano e o complexo verde na Amazônia. In: Becker, B. K; Costa, F. A; Costa, W. M.. (Org.). Um projeto para a Amazônia no século 21: desafios e contribuições. 1 ed. Brasília, DF: CGEE, v. 1, p. 39-86.
Becker, B. K. – 2011. Entrevista: Economia Verde. CGEE: Brasília.
Becker, B. K. e Stenner, C. – 2008. Um futuro para a Amazônia. Oficina de Textos: São Paulo.
Beluzzo, L. G. – 14/10/2011 – Estratégias Nacionais. http://envolverde.com.br/
Costa, S. – 20/09/2011 – Entrevista ao Portal ecodesenvolvimento.org
Marcondes, D. – 04/10/2011. Um modelo para a Amazônia. http://envolverde.com.br/
PNUMA. 2011. Hacia una economia verde. Guia El desarrollo sostenible y La erradicacion de La pobreza. Sintesis para los encargados de la formulacion de políticas.
Sanwal, M. 2010. Vision For Rio+20. Xerox.
The Blue Planet Prize laureates -2012 –Environment and Development Challenges: the Imperative to Act.The Asahi Glass Foundation,London
Unep,2012 - 21 Issues for the 21st Century, Results of the Unep Forsight Process on Emerging Environmental Issues. Alcamo,J., Leonard S.A.(eds.), Unep, Nairobi, Kenya,56 p.
United Nations. 2011. World Economic Survey. The Great Green Technological Transformation. UN: New York.
Viana, V. – 05/09/2011 – Relacionando o petróleo com a economia verde. Portal brasilagro.com.br.
Zadek, S. 2011. Green growth invisible ingredient. China Dialogue, 15 de março.
Young, C. E . 2011. Potencial de crescimento da economia verde no Brasil. Política Ambiental, nº 8, junho de 2011, Conservação Internacional: Belo Horizonte.









[1] Parte desta seção encontra-se em trabalho do CGEE, divulgação interna.


Sem comentários:

Enviar um comentário