segunda-feira, 25 de novembro de 2013

terça-feira, 12 de novembro de 2013

[Bertha Becker] A grande geógrafa


Texto produzido por Lúcio Flávio Pinto
Publicado em: http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=77178 em 23.08.2013
 

Imagem: ooutroladodamoeda.com.br
Bertha Becker, que morreu no final do mês passado, aos 83 anos, no Rio de Janeiro, era considerada por alguns como "a maior geógrafa, maior conhecedora e a cientista que mais influenciou políticas públicas para a Amazônia”. Foi como a definiu Raimunda Monteiro, professora e pesquisadora da Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará), orientanda de Becker e que com ela esteve em 2011, talvez na última viagem que fez à região, para debater a criação do Estado do Tapajós.
Não sei se o título é justo ou se é cabível pensar realmente num título como esse. Sem dúvida ela escreveu muito, andou bastante pela região, provocou polêmicas e influenciou ações, com o que garantiu sua posição de destaque entre os amazonólogos. Tinha uma característica relevante: procurava enquadrar a narrativa sobre a Amazônia num quadro explicativo mais amplo e num marco teórico universal. Não era apenas impressionista ou empiricista. Nem, no outro extremo, teórica demais.
Na primeira das várias vezes em que a encontrei, a parabenizei e lhe agradeci pelo gesto nobre que tivera ao escrever seu pequeno (e muito lido) livro Amazônia, que saiu nos anos 1990 na série Princípios da Editora Ática. Dos 20 livros da sua bibliografia comentada, um era meu, o Amazônia: no rastro do saque, de 1980, que ela disse ser "reportagem com enfoque sociológico sobre a realidade amazônica”.
Raramente os acadêmicos se permitem o risco de incluir livros de jornalistas na bibliografia que montam. Acham que pode desvalorizar suas teses e dissertações, sobretudo quando elas ainda dependem da aprovação de uma banca examinadora. Jornalismo não poderia levar o sinete de obra científica, que mereça referência. Seria para ser lido e esquecido, embora muitos acabem por usá-lo — desde que evitando a citação.
Com o tempo e em função das crescentes divergências que fomos tendo em cada encontro de trabalho, começou a surgir um mal-estar entre nós, que talvez a tenha levado a excluir meu livro de sua biblioteca. Nos últimos debates nos quais estivemos juntos, Bertha já antecipava que eu iria discordar dela, o que eu fazia sem constrangimento nem qualquer intenção maldosa. Eu gostava dela, a respeitava e admirava. Era uma pesquisadora de valor e uma pessoa eminente.
Mas realmente minha crítica ao seu trabalho se tornou inevitável, em função da própria evolução do conhecimento que fui acumulando sobre a Amazônia. Percebo hoje que quase 50 anos de dedicação sistemática a um tema fazem alguma diferença quando confrontados com abordagens mais recentes, menos constantes e, apesar disso, de maior pretensão intelectual.
Acho que a geopolítica, tanto a velha, de matriz conservadora e ideologicamente à direita do espectro, quanto a nova, de enfoque esquerdista, fazem mal à compreensão da Amazônia. Os tipos ideais decorrentes de sua matriz explicativa e a rigidez formal do seu raciocínio têm se mostrado incapazes de apreender a complexidade do processo histórico atual da Amazônia.
É tudo demasiadamente esquemático, numa versão do velho dualismo que faz os encantos dos intérpretes, mas de pouca serventia se mostra àqueles que participam do drama real e concreto da vida. A escolástica não deixa de gerar distorções para se tornar mais aceitável, simpática, sedutora. Especialmente para aqueles que querem exaurir em esquemas explicativos fatos muito mais ricos.
Recentemente acompanhei um projeto de pesquisa no qual a autora atribuía aos americanos o tom colonial e os aspectos nefastos da história da Companhia Vale do Rio Doce, criada em 1942 para abrir uma fonte de fornecimento de minério de ferro aos aliados, que combatiam o nazifascismo na Segunda Guerra Mundial. A manipulação dos Estados Unidos nos bastidores continuaria até hoje.
Isso é uma falácia. Não resiste à menor checagem. Mesmo que por meio de uma sofisticada chantagem, Getúlio Vargas conseguiu apoio dos EUA para a siderúrgica de Volta Redonda, que inseriu o Brasil na história do aço para valer (embora em posição irrelevante). E o peso americano foi logo deslocado para a Europa e a Ásia. Pelo contrário, a participação da United States Steel em Carajás é exemplo de um dos maiores fracassos de uma multinacional na exploração de recurso econômico em país estrangeiro.
A busca por um enquadramento teórico original e a necessidade de oferecer um projeto de organização para a Amazônia, que Bertha Becker empreendeu com pertinácia, não resultaram satisfatoriamente, no meu entendimento. O modelo colonial imposto à região é o de sempre nas relações entre um poder central e uma periferia, mas a mecânica desse processo, colocada em funcionamento nos nossos dias, está sujeita a dinâmicas novas.
Essa conjuntura distinta é que oferece a oportunidade de libertação de mais essa colônia de escapar à bitola do colonizador. Teorias rígidas, mesmo que desenvolvidas como armas de libertação, acabam por desfavorecer o objetivo pretendido. Os esquemas criados permitem ao autor da teoria explicar, embora equivocadamente. Mas não intervir na realidade de maneira a modificá-la. Por isso, o trem continua a carregar as riquezas para fora, enquanto os teóricos teorizam sobre uma base factual mais pobre do que a condição da Amazônia.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Sobre o "III Simpósio Relações entre Ciência e Políticas Públicas: Propostas de Bertha Becker para o Desenvolvimento da Amazônia"



Aconteceu no último dia 5, o III Simpósio Relações entre Ciência e Políticas Públicas: Propostas de Bertha Becker para o Desenvolvimento da Amazônia, dando fim ao ciclo de Simpósios idealizados para homenagear a pesquisadora e enfatizar sua importante contribuição para a pesquisa científica e formulação de políticas públicas para a Região Amazônica.

O evento ocorreu na cidade de Belém, no auditório Paulo Cavalcante do Campus de Pesquisa do Museu Paraense Paraense Emílio Goeldi. Iniciado com as palavras do Diretor do Museu Goeldi Nilson Garbas e a Pesquisadora Ima Vieira, grande amiga de Bertha e idealizadora da homenagem.

As duas mesas compostas para o debate no evento tinham como tema pontos cruciais levantados por Bertha Becker: os avanços e desafios dos programas de C&T para a Amazônia e o desenvolvimento amazônico baseado na valorização da floresta em pé. Na ocasião também ocorreu o lançamento do livro de Bertha: A Urbe Amazonida.

Dos três simpósios realizados, este foi o único que não contou com a presença da pesquisadora, falecida em 13 de julho., o que resultou em grandes homenagens e relatos de situações vivenciadas com Bertha Becker por parte dos palestrantes.

O evento teve transmissão ao vivo pelo canal do Museu Goeldi no livestrem.





Mesa 1 - Peter Toledo, Roberto Araújo e Tatiana Sá


 
 Mesa 2 - Milton Kanashiro, Charles Clement e Helena Lastres
 Marlucia Martins, Charles Clement, Milton Kanashiro, Raimunda Monteiro, Ima Vieira, Alfredo Homma, Peter Toledo, Tatiana Sá, Roberto Araújo e Diógenes Alves.



Diretoria da AABBER - Associação dos Amigos da Bertha Becker

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

III Simpósio - Bertha Becker - Propostas para a Amazônia



O III SIMPÓSIO Relações entre Ciência e Políticas Públicas: Propostas de Bertha Becker para o Desenvolvimento da Amazônia será transmitido pelo canal do Museu Goeldi no youtube.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Bertha Becker e a Amazônia

A obra de uma das maiores especialistas em região amazônica é a base para o INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia discutir ciência e políticas públicas


Agência Museu Goeldi - No dia 13 de julho de 2013, a ciência perdeu uma pesquisadora incansável, irrequieta e apaixonada pela Amazônia, região à qual dedicou 40 anos de estudo. Bertha Koiffman Becker faleceu aos 83 anos no Rio de Janeiro. Professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro e membro da Academia Brasileira de Ciência, era uma das principais pensadoras brasileiras sobre a realidade amazônica e consultora do INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia, coordenado pelo Museu Paraense Emílio Goeldi.

Homenagem – O INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia está realizando o ciclo de simpósios “Relações entre Ciências e Políticas Públicas: Propostas de Bertha Becker para o Desenvolvimento da Amazônia” para discutir o planejamento para a Amazônia com base nas propostas de Bertha Becker e homenageá-la. Os eventos são parte do plano de divulgação do trabalho de Bertha, que ainda conta com um blog e DVD com a coletânea de seu trabalho. O primeiro simpósio ocorreu em janeiro de 2013 e o segundo está previsto para agosto deste ano.

As palavras da coordenadora do INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia, parceira em artigos e amiga de Becker há 13 anos, Ima Célia Vieira (ecóloga do Museu Goeldi), ressaltam a importância da geógrafa como cientista e cidadã: “Bertha Becker era apaixonada pela Amazônia, região que ela escolheu para estudar e que dedicou a maior parte de sua carreira. Era incansável em seus trabalhos de campo, suas análises profundas sobre o território amazônico e o papel das cidades, e seus projetos para a região. Bertha sempre esteve preocupada em associar a ciência que fazia com políticas públicas, e o seu último projeto de pesquisa, era exatamente isso: analisar as suas propostas para a Amazônia e os impasses e desafios para a implementação dos projetos de desenvolvimento. Cultivamos uma grande amizade nos últimos 13 anos. Além da ausência imensa, ela nos deixa lembranças e imagens de momentos alegres e descontraídos, ensinamentos que seguirão em novas propostas de desenvolvimento para a região amazônica. Perdemos uma cientista que se pautou pela ética e amor à ciência e uma ativa cidadã. O seu legado científico é imenso, diversificado e acessível a todos que queiram estudar a sua obra”.

Contribuições à ciência - A geografia política pensada por Becker percebe a Amazônia como uma região complexa e estratégica para o país, para a qual ela propõe um novo modelo de desenvolvimento sustentável. Em debate no Museu Goeldi, em 2010, ela lançou aos pesquisadores o desafio de se refletir sobre o desenvolvimento da Amazônia articulando o papel das cidades, a conservação das florestas e as dinâmicas territoriais amazônicas, durante a conferência inaugural deste INCT.

A geógrafa ressaltava a necessidade de conter o desmatamento na região, propondo atividades produtivas adequadas aos serviços ambientais proporcionados pela floresta e a exploração de produtos não madeireiros. Segundo ela, o fim do desmatamento só ocorreria com a atribuição de valor econômico à floresta em pé. Por isso, defendia o papel da rede urbana como centros estratégicos de cadeias produtivas e como ‘cinturão de blindagem flexível’ às matas densas.

Além disso, o planejamento territorial da Amazônia deveria considerar as múltiplas territorialidades pertencentes a esse espaço. Becker chamava atenção para os poderes e territórios multidimensionais, que se manifestam em diferentes escalas e afetam as ações de controle exercidas pelo Estado.

Bertha Becker atuou como consultora ad hoc em várias instituições científicas e participou do processo de elaboração de inúmeras políticas públicas relacionadas à região amazônica. O resultado de seu esforço junto a diversos setores da ciência brasileira, como a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), foi o delineamento do plano de ação e investimentos em ciência para a Amazônia. Sua proposta de promover "uma verdadeira revolução científica enfocada na biodiversidade nacional, e em especial na biodiversidade da Amazônia", é fonte de inspiração para diversos pesquisadores, unidos em torno  do que denominaram como “revolução beckeriana”.

Mesmo com a saúde frágil, lançou seu último trabalho em junho deste ano. A “Urbe Amazônida”, da editora Garamond, examina a história e o papel da urbanização amazônica, reforçando a urgência de um novo padrão de desenvolvimento regional.

Texto: Luena Barros

Remembering Bertha Becker

Paris, 23 July 2013 — Bertha Becker, a world-renowned researcher in the Amazon and member of the Future Earth Transition Team which designed the new 10-year programme for research on global sustainability, passed away on July 13, aged 82, in Rio de Janeiro.
A political geographer who dedicated her career to research in the field, Becker was a highly respected expert in geopolitics and land issues of the Amazon. She trained as a geographer at the National University of Brazil and did her PhD at the Federal University of Rio de Janeiro, where she has taught for the past four decades. Member of the Brazilian Society for the Advancement of Science (SBPC) and the Academia Brasileira de Ciencias (ABC), Bertha did postdoctoral studies in the Department of Urban Studies and Planning at the Massachusetts Institute of Technology (MIT). She was also vice-president of the International Geographical Union from 1996-2000.
She is fondly remembered by the global team of scientists led by Johan Rockström and Diana Liverman who worked for two years on the conceptual design and research framework for this ambitious programme.
“Bertha gave Diana and myself invaluable support throughout our work with the Transition Team, always sharing her wisdom and insight generously. A strong voice for global sustainability and development research has left us,”  said Rockström, who is Executive Director of the Stockholm Resilience Center.
“Bertha was a positive presence on the Transition Team, especially encouraging of our efforts to create a more interdisciplinary, international and innovative vision and was so happy that we launched Future Earth last summer at Rio+20 in her home city,” said Liverman, who is co-director of the Institute of the Environment at the University of Arizona.
Becker published about two dozen books and more than a hundred articles.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Homenagem do BNDES à Professora Bertha Koiffmann Becker

Queremos  deixar  registrado  nosso  imenso  sentimento  de  pesar  pelo
falecimento da querida Professora Bertha Becker, referência mundial da ciência
brasileira  na  área  da  geografia  política,  principalmente  nos  estudos  sobre  a
Amazônia e seus importantes aportes à pesquisa, planejamento e política. 
O BNDES  teve a honra e a satisfação de  recebê-la por  inúmeras vezes, para
ouvi-la  sobre  políticas  para  o  desenvolvimento,  com  ênfase  à  dinâmica
regional,  à  região Amazônica  e  às  oportunidades  para  seu  desenvolvimento.
Destacamos,  sobretudo,  o  valor  de  suas  contribuições  ao  articular  pesquisa
teórica e de campo com  formulações de políticas,  resultando em proposições
de modelos  alternativos  de  ocupação  do  território,  dentro  da  perspectiva  do
desenvolvimento  sustentável.  Seu  aporte  ao  BNDES  registra-se  através  da
participação em  reuniões e seminários com executivos de diversas unidades,
em  especial  das  Áreas  de  Planejamento,  Infraestrutura,  Meio  Ambiente,
Infraestrutura Social, Agropecuária, Inclusão Social e Recursos Humanos.
Três destaques principais recentes incluem suas contribuições (i) nas reuniões
que  deram  base  à  criação  e  estruturação  da  Área  de  Meio  Ambiente  e  do
Fundo Amazônia do BNDES,  realizados em abril a  junho de 2009, publicadas
em Amazônia em Debate: oportunidades, desafios e soluções, BNDES, 2010.
(ii)  no  Seminário  Amazônia:  Transformações,  Dilemas  e  Novas  Políticas  de
Desenvolvimento,  realizado em 23 de novembro de 2010; e  (iii) no seminário
realizado entre 29 de novembro e 1º de dezembro de 2010, e publicadas em A
Nova  Geração  de  Políticas  para  o  Desenvolvimento  Produtivo:
Sustentabilidade Social e Ambiental, CNI, 2012.
Nesse  ano  de  2013,  realizamos  também  no  BNDES  o  I  Simpósio  Relações
entre  Ciência  e  Políticas  Públicas:  Propostas  de  Bertha  Becker  para  o
Desenvolvimento  da  Amazônia,  em  16  de  janeiro,  organizado  pelo  Museu
Paraense  Emilio Goeldi  (MPEG/MCTI),  com  apoio  da  Secretaria  de Arranjos
Produtivos e  Inovativos e Desenvolvimento Regional e Local, do Gabinete da
Presidência do BNDES. Suas principais conclusões destacaram a  importância
de desenvolver políticas  inovadoras e  capazes de:  conter o desmatamento e proteger a sociobiodiversidade da região amazônica; mobilizar novos modos de
uso  da  terra  e  de  produção  que  reconheçam  o  valor  estratégico  desta
sociobiodiversidade;  e  de  gerar  benefícios  para  as  populações  regionais  e
locais. Como destacado pela homenageada, o cerne das políticas para o novo
padrão  de  desenvolvimento  econômico  é  superar  o  falso  dilema  da
conservação  entendida  como  preservação  intocável  versus  utilização  com
destruição. “É fundamental a criação de um novo modelo baseado no conceito
de ‘produzir para conservar’, no qual a dialética ciência e política não pode ser
ignorada”.
Nós  do  BNDES  somos  gratos  à  Professora  Bertha  por  transmitir  os
conhecimentos  e  as  preocupações  com  o  desenvolvimento  do  país  e  com  a
necessidade de valorizar as condições e culturas regionais de forma realmente
sistêmica e colocando a ciência, a  tecnologia e a  inovação como propulsoras
do  desenvolvimento  do  país  e  da Amazônia. Admiramos  particularmente  sua
grande  simpatia,  energia  e  compromisso  permanente  de  compartilhar
experiências  e  conhecimentos.  Essas  qualidades,  juntamente  com  seu  vasto
legado acadêmico e profissional, asseguram a inclusão da Professora Emérita
da  Universidade  Federal  de  Rio  de  Janeiro,  Bertha  K.  Becker  no  rol  dos
grandes brasileiros que merecem o reconhecimento das futuras gerações.
Acolham na  família e nos ambientes onde  trabalhou nossas mais  carinhosas
saudações e manifestos de admiração e solidariedade.


Luciano Coutinho – Presidente do BNDES

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Morre Bertha Becker, geógrafa defensora da Amazônia

A pesquisadora, referência em estudos ambientais relacionados à região amazônica, faleceu no último sábado (13), no Rio de Janeiro

por Débora Spitzcovsky
Eduardo Monteiro

bertha becker 
 Eduardo Monteiro

Bertha Becker
Faleceu no último sábado (13/07), na capital fluminense, a geógrafa Bertha Becker. Formada em 1952 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, ela se tornou referência em estudos ambientais, sobretudo relacionados à região amazônica.
Autora do livro Um Futuro para a Amazônia, lançado em 2008 em parceria com o geógrafo Cláudio Stenner, Becker era uma incansável defensora da Amazônia, apontando caminhos para garantir a preservação do bioma que passavam por mais conhecimento científico e maior promoção da economia verde.
Becker era ainda professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro, doutora honoris causa pela Universidade de Lyon III, na França, integrante da Academia Brasileira de Ciências e membro do conselho diretor da ONG Amigos da Terra - Amazônia Brasileira.


Morre Bertha Becker, geógrafa defensora da Amazônia


A pesquisadora, referência em estudos ambientais relacionados à região amazônica, faleceu no último sábado (13), no Rio de Janeiro

por Débora Spitzcovsky
bertha becker
Eduardo Monteiro
Bertha Becker faleceu no último sábado (13/07), na capital fluminense, a geógrafa Bertha Becker. Formada em 1952 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, ela se tornou referência em estudos ambientais, sobretudo relacionados à região amazônica.
Autora do livro Um Futuro para a Amazônia, lançado em 2008 em parceria com o geógrafo Cláudio Stenner, Becker era uma incansável defensora da Amazônia, apontando caminhos para garantir a preservação do bioma que passavam por mais conhecimento científico e maior promoção da economia verde.
Becker era ainda professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro, doutora honoris causa pela Universidade de Lyon III, na França, integrante da Academia Brasileira de Ciências e membro do conselho diretor da ONG Amigos da Terra - Amazônia Brasileira.

Fonte: http://viajeaqui.abril.com.br/materias/morre-bertha-becker-geografa-defensora-da-amazonia-

terça-feira, 16 de julho de 2013


No link, "Perfil de Bertha K. Becker - No Coração da Floresta" publicado na Revista Ciência Hoje em outubro de 2010.


Morte de Bertha Becker deixa Brasil sem uma de suas maiores cientistas


 
 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Morre Bertha Becker, a cientista da Amazônia




Faleceu hoje em seu apartamento de Copacabana, no Rio de Janeiro, aos 83 anos, a geógrafa Bertha Koiffmann Becker, uma das mais destacadas cientistas brasileiras. Membro da Academia Brasileira de Ciência, professora emérita da Universidade Federal de Rio de Janeiro e agraciada com doutorado honoris causa e outras homenagens em muitos dos principais centros acadêmicos do mundo, Bertha Becker é referência por seus aprofundados estudos sobre Amazônia, com inúmeros livros e publicações.
A geógrafa estudou a fronteira móvel da agropecuária no Brasil desde a década de 60. Começou com o crescimento da pecuária no Rio de Janeiro e São Paulo, depois em Goiás na década de 70 e, a partir daí desenvolveu suas pesquisas de campo principalmente na Amazônia. “As pessoas pensam que isso é novo, mas não é, a expansão das fronteiras da pecuária na direção da Amazônia tem 50 anos – declarou recentemente.
Bertha Becker era, desde os anos 90, membro do conselho diretor da OSCIP Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, da qual era também associada emérita. “Sua dedicação para a instituição era total, profunda, como tudo o que ela fazia – comentou o diretor de políticas da instituição e amigo pessoal da cientista, Roberto Smeraldi – Bertha foi uma cidadã 24×7, além de uma das pessoas mais inteligentes que já conheci na vida. Uma inteligência que a levava sempre a farejar as mudanças antes que elas se revelassem. A sociedade brasileira recebe uma herança ímpar e um desafio para décadas: decifrar e desdobrar o patrimônio de sabedoria que ela construiu.”

Fonte: http://amazonia.org.br/2013/07/morre-bertha-becker-a-cientista-da-amaz%C3%B4nia/

O Captain! My Captain!

Por Diógenes Alves, Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE
 
 
Falar do longo percurso de Bertha Becker não é trivial.
Mas, nos 20 anos em que tive o privilégio de conviver
com ela, aprendi muito. No início, acompanhando seu
trabalho no Zoneamento. Depois, durante a longa
história do LBA, quando pude trabalhar mais próximo
dela.

Da personalidade, a energia é a imagem mais vívida
que me vem à mente, como também o aprumo e o empenho
para executar seus estudos, avaliações, pareceres.
Aprumo e dedicação inseparáveis da vontade deliberada
de entender os "enjeux" e, ao mesmo tempo, valorizar,
resgatar. Ao longo da longa carreira e da vida, pode
acompanhar como as coisas foram tomando forma e ter
uma visão privilegiada  do que nos custou construir
esse pouco que temos.

Na intelectual, a imagem da geógrafa política e humana
é inseparável da geopolítica. Uma geopolítica capaz de
olhar para fora e para dentro; protagonista das mobilizações
da academia num tempo globalizado, "neoliberal", de
polaridades e certezas confusas; contemporânea da
reunião do G7 de Houston, do novo pacto federativo
de 1988, da Rio 92, do PPG7. Geopolítica que, possivelmente,
mais nos deu alento graças a explanações sobre um mundo
para o qual os esquemas do passado haviam perdido a força.


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O Captain! My Captain! our fearful trip is done;
The ship has weather'd every rack, the prize we sought is won;
The port is near, the bells I hear, the people all exulting,
While follow eyes the steady keel, the vessel grim and daring:
[...]
O Captain! my Captain! rise up and hear the bells;
Rise up?for you the flag is flung?for you the bugle trills;
For you bouquets and ribbon'd wreaths?for you the shores a-crowding;
For you they call, the swaying mass, their eager faces turning;

domingo, 14 de julho de 2013

Nota de falecimento

Bertha nos deixou!

Faleceu na tarde deste sábado, dia 13 de julho de 2013, na cidade do Rio de Janeiro, a Geógrafa Bertha Koiffmann Becker.
Mente brilhante, pesquisadora irrequieta e mulher admirável, Bertha deixa importantíssima contribuição à Ciência geográfica e à pesquisa na região Amazônica.

sábado, 15 de junho de 2013

Carta do Pesquisador do INPE Dr. Giberto Câmara

Olá Ima, Bertha e colegas
Parabéns!!! Muitíssimo obrigado a todos os envolvidos neste grande esforço de reunir os trabalhos da Bertha sobre a questão urbana na Amazônia. Falar da importância da Bertha é de certa forma redundante para todos nós do GEOMA, mas acho que algumas reflexões sobre o novo trabalho são cabíveis.
A intuição e a visão de Bertha sempre foram essenciais para todo os que pesquisam a Amazônia. Bertha nunca teve dúvidas em "remar contra a corrente", especialmente porque nossa agenda de pesquisa é quase sempre definida a partir de questões cientificas legitimas, mas geradas na perspectiva dos países desenvolvidos.
Em especial, a intuição da Bertha sobre o papel essencial da questão urbana na Amazônia indica para um caminho de investigação distinto da maioria das pesquisas feitas sobre a região. Enquanto a ênfase em programas de pesquisa como o LBA é nos aspectos físicos e naturais da Amazônia, Bertha diz que a Amazônia é uma "floresta urbanizada". Ela enfatiza a necessidade de entender o papel de núcleos urbanos como Sinop, Marabá, Paragominas, Santarém e Novo Progresso para entender como as instituições se organizam na região.
Bertha ensina que como, a partir de núcleos urbanos estabelecidos a partir dos anos 1970, o desmatamento pode ser organizado como parte das cadeias produtivas do gado, soja, leite e madeira. Para entender o desmatamento da floresta, temos de entender o urbano na Amazônia.
Bertha é uma fonte permanente de inspiração para todos nós. Agradeço a ela, Ima, Nathalia, Bartholo, Peter e Tatiana por mais esta lição.
Abraços
Gilberto

quinta-feira, 13 de junho de 2013


A URBE AMAZÔNIDA ENTRE A FLORESTA E A CIDADE - o mais novo livro de BERTHA K. BECKER


RESUMO

Por que os núcleos urbanos, tão intrínsecos ao processo de sua colonização, não promoveram o desenvolvimento da Amazônia? A autora reexamina a história das origens das cidades amazônicas à luz das teorias de Jane Jacobs sobre as cidades como motores do crescimento econômico, e de Peter Taylor com respeito às relações entre cidades e destas com os lugares centrais.
A história da Amazônia revela que a região ficou à margem do Estado brasileiro, na dependência das demandas das metrópoles e países estrangeiros, passando por curtos períodos de crescimento seguidos de longos intervalos de estagnação. Se em tempos coloniais a apropriação do espaço amazônico pelos europeus seguiu diferentes modelos – catequização por missionários portugueses e espanhóis; fundação de aldeamentos para exportação de drogas do sertão colhidas por indígenas, seguida de intensificação do comércio e urbanização (Portugal); conquista da terra e busca obsessiva por ouro (Espanha); fundação de colônias agrícolas e cooperação com grupos indígenas (Holanda) – em épocas contemporâneas o Estado brasileiro favoreceu a expansão da fronteira agrícola do Sudeste para ocupar a Amazônia, que ocorreu com a formação contemporânea de uma fronteira urbana de imigrantes. Por sinal, o Estado brasileiro historicamente têm-se caracterizado pela implementação de uma geopolítica de controle territorial da Região Amazônica, criando novas instituições administrativas (vilas, cidades, capitais) sem fomentar o avanço social.
O trabalho novo na acepção de Jacobs, fundamento do dinamismo urbano e da expansão econômica, emergiu na Amazônia do trabalho velho representado pelo conhecimento e experiência tradicionais dos povos indígenas, conforme adaptado pelos europeus. Consistia numa combinação de novas maneiras de apropriação da terra, de gerenciamento e logística do escoamento dos fluxos exportadores da droga do sertão: a novidade não estava no produto, mas na sua escala de exploração, instituindo-se novas divisões sociais (escravos, imigrantes rurais) sem progressos distributivos. Entretanto, os vários surtos econômicos que ocorreram nos principais núcleos da região não resultaram em dinamismo urbano ou de expansão porque não conduziram à mudança de conteúdo, estrutura ou complexidade da economia.
Da mesma forma, as redes de cidades que definiriam um fluxo comercial que expandisse a economia regional através de uma substituição de importações não funcionaram na Amazônia porque ocorreu uma relação de subordinação hierárquica às demandas externas das metrópoles mundiais. O capitalismo industrial, que determina a expansão ou retração de determinados produtos e áreas, estimulou surtos súbitos e abruptamente interrompidos que não permitiram a consolidação do crescimento efêmero gerado: ocorreu, por exemplo, com a borracha, a juta, o pau-rosa e a extração mineral. Também contribuíram para a debilidade da economia regional um mercado doméstico fraco e a perpetuação de desigualdades causada pela ausência de políticas públicas que promovessem justiça social.
As poucas cidades dinâmicas da Amazônia devem essa condição ao comércio associado à circulação, aos recursos e a privilégios políticos, e se destacam pela criação de trabalho novo industrial (Manaus), legado de um ou vários surtos (Rio Branco, Manaus, Santarém e Belém), geopolítica estatal (Rio Branco, Imperatriz), indústria cultural (Belém, Parintins) ou estimulo resultante da criação de universidades (Santarém). Em núcleos pequenos e numerosos, a cultura e o saber indígena e caboclo e os grupos camponeses que trabalham na floresta com produtos não madeireiros, formam um contingente diferenciado e resistente, de características próprias. Mas a região ainda se ressente da falta de cadeias produtivas completas que estruturem e integrem os setores de produção, havendo o predomínio da economia informal e grande dependência do Estado brasileiro.
É urgente um novo padrão de desenvolvimento regional, capaz de melhorar as condições de vida das populações da Amazônia e superar as ameaças à sua sustentabilidade. O aproveitamento da biodiversidade frente às crises energética, climática e econômica releva a importância da floresta. Constituem novas e promissoras estratégias o mercado de carbono e outras medidas preservacionistas centradas em biomas, a atribuição de valor econômico compatível com commodities à floresta em pé, o reconhecimento do zoneamento natural dos tipos de vegetação, a recuperação das cidades como nós logísticos das redes e a criação de cadeias produtivas completas.

ABSTRACT

            Why is that the urban nuclei, so intrinsic to the process of its colonization, did not promote the development of Amazonia? The author reviews the history of the origins of Amazonian cities in light of Jane Jacobs’ theories on cities as drivers of economic growth, and Peter Taylor’s ones with respect to the relationships between cities and between these and central places.
            The history of Amazonia reveals the region remained aside from the Brazilian State, depending on the demands of metropoles and foreign countries, going through short periods of growth followed by long intervals of stagnation. If in colonial times the appropriation of the Amazonian space by Europeans followed various models – proselytization by Portuguese and Spanish missionaries; establishment of settlements for exporting drugs from the wilderness collected by indigenous people, followed by an intensification of commerce and urbanization (Portugal); conquest of the land and obsessive search for gold (Spain); establishment of agricultural colonies and cooperation with indigenous groups (Dutch Empire) – in recent times the Brazilian State promoted the expansion of the agricultural frontier from the Southeast in order to occupy Amazonia, which happened about the same time as the formation of an urban frontier of immigrants. Indeed, the Brazilian State has historically been known for implementing a geopolitics of territorial control of the Amazonian Region, creating more and more new administrative institutions (villages, towns, capital cities) without furthering social advance.
            In Amazonia, new work as defined by Jacobs – the basis for urban dynamics and economic expansion – was built on the old work represented by traditional knowledge and experience of indigenous peoples, as adapted by Europeans. It was a combination of new ways of land appropriation, management and logistics of the export flow of drugs of the wilderness: the novelty was not in the product, but in its level of exploitation, as new social divisions (slaves, rural immigrants) were established without distributive advances. However, the various economic surges in the main nuclei of the region did not result in urban dynamics or expansion because they did not lead to changes in the content, structure or complexity of the economy.
Likewise, the city networks that could define a commercial flow that expanded the regional economy by means of import replacement did not work out in Amazonia because of a relationship of hierarchical subordination to the external demands of world metropoles. Industrial capitalism, which determined the expansion or retraction of given products and areas, has stimulates sudden and abruptly interrupted surges that did not allow for the consolidation of the generated short-lived growth: this happened, for instance, with rubber, jute, rosewood and the mining industry.  Also contributed to the general weakness of the local economy a puny domestic market and the perpetuation of inequalities caused by the lack of public policies promoting social justice.
The few dynamic cities in Amazonia owe that condition to the commerce associated to traffic, resources and political privilege, and can be characterized by the creation of industrial new work (Manaus), the legacy of one or more surges (Rio Branco, Manaus, Santarém and Belém), State geopolitics (Rio Branco, Imperatriz), cultural industry (Belém, Parintins) or a stimulus resulting from the creation of universities (Santarém). In small, numerous nuclei, indigenous and caboclo culture and lore and the peasant groups working in the forest with non-wood products form a separate, resilient body with their own specific features. But the region still suffers from a lack of complete productive chains structuring and integrating the production sectors, with a predominance of informal economy and great dependency on the Brazilian State.

A new standard of regional development is urgently needed, one capable of improving the life conditions of Amazonian populations and overcoming the threats to their sustainability. The utilization of biodiversity to face the energy, climate and economic crises points out to the importance of the forest. There are new and promising strategies such as the carbon market and other conservationist measures centered on biomes, the attribution to the standing forest of an economic value compatible with that of some commodities, the recognition of the natural zoning of vegetation types, the recovery of cities as logistical knots in networks and the creation of complete productive chains.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Memorial de Bertha Becker

Compartilhamos link do Memorial escrito por Bertha Becker para o concurso de Professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro em dezembro de 1993.

Link: Memorial

domingo, 17 de março de 2013

Uma Revolução Beckeriana para a biodiversidade brasileira

Texto retirado do Jornal da Ciência (http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=86188)

 
Artigo de Charles R. Clement1, Juliana Lins1,André B. Junqueira1,2, Ana Catarina C. Jakovac1,2, Tiara S. Cabral1, Carolina Levis1, Alessandro Alves-Pereira1,3, Ima Célia Guimarães Vieira4

A biodiversidade amazônica está sendo destruída porque não tem suficiente valor econômico para os amazônidas, os brasileiros ou o mundo. Em um primeiro momento a afirmação pode parecer estranha, pois a biodiversidade é considerada um dos principais recursos naturais da Amazônia e o conhecimento tradicional associado a ela é considerado a chave de acesso a seu uso. Por que então a biodiversidade não teria valor suficiente?

Ao longo dos últimos 11 mil anos, os povos indígenas da Amazônia dedicaram inteligência e esforço em identificar os possíveis usos depelo menos 3500 espécies de plantas (recursos biológicos) e, para as 100 espécies mais úteis, investiram na sua seleção, propagação, manejo e cultivo, criando recursos genéticos durante o processo de domesticação. O ritmo de investimento indígenafoi reduzido drasticamente ao longo dos últimos 500 anos, quando os povos indígenas foram dizimados e colonizados. Os ribeirinhos continuam a investir em alguns desses recursos biogenéticos, embora em ritmo menor.

Hoje, a soja e a pecuária estão expandindo suas presenças na Amazônia, tanto sobre áreas já desmatadas quanto sobre áreas florestadas. Por que a tão falada biodiversidade da Amazônia não está expandindo a sua presença nos mercados? A razão é simples: não houve suficiente investimento em Ciência &Tecnologia e Pesquisa&Desenvolvimento&Inovação ao longo das últimas décadas para desenvolver as cadeias de produção dos recursos biogenéticos da Amazônia, diferente do que ocorreu com a soja, por exemplo. Estase tornouum sucesso porque o desenvolvimento de tecnologias esteve diretamente atrelado à produção e porque existe demanda no mercado globalizado. Para os recursos biogenéticos da Amazônia essa demanda não existe porque não houve investimentos para prepará-losao mercado. O ciclo do descaso é simples e irrefutável.

No entanto, existem dezenas de exemplos de sucesso no uso racional da biodiversidade, quase sempre em pequena escala e sempre onde existe uma organização social que desenvolve uma ligação com o mercado. As principais razões do sucesso limitado são a falta de qualidade e uniformidade do recurso e a dificuldade de acesso a quantidades razoáveis. Qualidade e uniformidade são características que podem ser resolvidas via melhoramento genético, enquanto que quantidades podem ser obtidas via tecnologias de produção adequadas às realidades locais e com o desenvolvimento de cadeias de comercialização com auxílio das instituições locais e estaduais. Quando existe a sinergia entre organização social e o mercado, estes fatores são resolvidos localmente. O Brasil possui competência em ambas as tarefas (melhoramento e comercialização) em nível nacional, mas esta competência não está sendo dirigida à biodiversidade, mas sim aos agronegócios rentáveis.

Com o avanço da soja, da pecuária e do setor madeireiro na Amazônia, a biodiversidade está cada vez mais ameaçada. Considerando que sempre existirá um intervalo entre o início de um esforço de P&D&I e o aumento de demanda no mercado, é imprescindível que o Brasil invista na sua biodiversidade agora, sob risco de não aproveitar as oportunidades que esta oferece e de vê-la desaparecer. Hoje o Brasil possui um conjunto de fatores que permitiriam uma verdadeira revolução científica enfocada na biodiversidade nacional, especialmente na amazônica:

1.Uma crescente atenção e valorização dos produtos provindos da Amazônia, dentro e fora do país;

2. Um crescente número de organizações sociais buscando participação nas economiaslocais e nacional;

3. Um conjunto importante de instituições federais, estaduais e privadas de C&T e P&D&I na Amazônia;

4. Um contingente grande de recém-doutorese outros profissionais de nível superior sem opções formais de emprego imediato;

5. Uma filosofia federal de descentralização dos recursos federais para C&T e P&D&I via um contingente crescente de Fundações de Amparo à Pesquisa;
6. Competência para investir em P&D&I de forma eficiente.

A professora emérita da UFRJ, Bertha Becker, é uma das principais pensadoras brasileiras sobre a realidade amazônica e nacional. Podemos dizer que sua geografia política permite apresentar a Amazônia com toda a sua complexidade e como uma região reveladora de desafios enormes na análise da territorialidade e gestão do território. E mais do que isso: permite perceber o papel estratégico (e as limitações) do Estado brasileiro em engendrar um novo modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia.

Becker tem obtido sucesso em convencer diversos setores da ciência brasileira como a Academia Brasileira de Ciências-ABC, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência-SBPC e o próprio Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação-MCTI sobre a importância da C&T e da PD&I para o desenvolvimento da região.Tanto foram eficazes os seus esforços que estas instituições, junto com as Fundações de Amparo à Pesquisa, estão traçando um plano de ação e investimentos em ciência para a região. O delineamento até agora visível é promissor, mas requer mais - "uma verdadeira revolução científica enfocada na biodiversidade nacional, e em especial na biodiversidade da Amazônia", como ela sempre afirmou. Uma revolução é necessária não somente para aumentar investimentos, mas para revolucionar pensamentos, objetivos, métodos e consequências.

Segundo defende, os objetivos da revolução devem incluir a valoração da floresta em pé, a conservação do coração da floresta na Amazônia Ocidental e, acima de tudo, provocar um bem-estar crescente para os amazônidas e os recém-chegados à região. Estes três objetivos requerem mais do que C&T e PD&I, requerem educação de qualidade para toda a população brasileira e, especialmente, a amazônica.

Uma Revolução Beckeriana deveria incluir alguns objetivos adicionais aos anteriormente mencionados:

1. Identificar demandas de mercado para os recursos biogenéticos já conhecidos das populações tradicionais e,concomitantemente, identificar demandas destas populações;

2. Domesticar de forma participativa os recursos biogenéticos a fim de aumentar a uniformidade, a qualidade e a quantidade dos produtos destinados ao mercado;

3. Desenvolver produtos e processos capazes de agregar valor nas regiões de origem dos recursos;

4. Reduzir o número de intermediadores entre as comunidades e os mercados;

5. Fomentar a interação entre as empresas de pequeno e médio porte e comunidades do interior para desenvolver cadeias de produção e comercialização eficientes e socialmente justas.

Para maximizar o impacto dessa Revolução Beckeriana,a curto prazo, alguns pressupostos devem ser respeitados:

1. A escolha dos recursos biogenéticos a receberem investimentos deveria ser feita de comum acordo entre as comunidades locais, as organizações sociais (especialmente ONGs e Sindicatos de Trabalhadores Rurais), as micro, pequenas e médias empresas, e as instituições de P&D&I da região.
2. Novos recursos biogenéticos sempre possuirão pequenos nichos de mercado e o esforço de desenvolvê-los deveria ser proporcional. Ou seja, embora cada recurso deva receber atenção, isso não deve ser via um grande complexo burocrático. A revolução poderá ser traçada nacionalmente e de forma transdisciplinar, mas deverá ser executada localmente via FAPs e instituições regionais, e sempre via projetos desenhados para atender recursos biogenéticos e comunidades específicos.

3. O contingente de recém-doutores desempregados deve ser chamado a colaborar na revolução via bolsas (com enxoval) vinculadas a acordos entre organizações da sociedade civil e instituições de P&D&I e de extensão rural que atuam na região. Cada recém-doutor pode trabalhar com um ou dois técnicos agrícolas ou recém-graduados moradores da região.Esses profissionais devem estar preparados para viver e atuar no interior durante a vigência da bolsa (que deveria ser de pelo menos três anos, renovável por mais três). A revolução não terá sedes próprias, mas ficar sediada nas organizações sociais das comunidades, que devem ser estimuladas a criar empreendimentos locais.

4. Não apenas a domesticação participativa será importante, mas certos produtos necessitarão de esforços mais direcionados ao seu beneficiamento. Esforços para incubar novos produtos e processos e até novas empresas deveriam ser uma prioridade das instituições que desejam participar da Revolução Beckeriana.

5. A Revolução Beckeriana proposta precisa começar com investimentos massivos dos governos federal e estaduais, via Fundos Setoriais, orçamentos ministeriais e FAPs, mas os governos e instituições precisam estar preparados para gerenciar também investimentos externos ao mesmo tempo em que protege os direitos à propriedade intelectual das comunidades locais.

Um outro mundo é possível, com a renovação do quadro institucional de C&T que a professora Bertha Becker propõe. Como chegar lá requer uma sequência de decisões sobre investimentos em educação, ciência e extensão, que juntos criam desenvolvimento inclusivo.
Esperamos que estas ideias "beckerianas" possam contribuir com o plano desenhado atualmente para a Amazônia, pois oferece mecanismos de incluir os amazônidas como atores centrais e revolucionar a ciência que aqui é praticada, rumo a um novo padrão de desenvolvimento.

Texto produzido por um grupo de pesquisadores, liderado pelo Dr Charles Clement:

1 Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia-INPA, Manaus, AM; 2University of Wageningen; 3 ESALQ - USP, Piracicaba, SP; Museu Paraense Emilio Goeldi-MPEG, Belém, PA

segunda-feira, 11 de março de 2013

Texto de Ima Vieira para o II Simpósio Relações entre Ciência e Políticas Públicas

Caros pesquisadores e participantes do II Simpósio,
Ao final dos trabalhos, vocês já devem estar muito cansados. Gostaria apenas de apresentar a
nossa intenção em continuar a discutir as contribuições científicas de Bertha Becker e seus
impactos nas Políticas Públicas que vêm sendo formuladas para a Amazônia.
“Na relação entre cientista e a política, importa discutir a sua contribuição científica, a sua
transformação em protocolo de ação e a sua absorção como fundamento de praxis que movem
a sociedade e fazem a história”. Com essas palavras, o prof. Da UFPa, Francisco de Assis Costa,
abriu a sua palestra no I Simpósio e evidenciou o desafio que temos em discutir as inúmeras
contribuições de Bertha para a Amazônia e o Brasil. Minimamente podemos dizer que sua
geografia política permite apresentar a Amazônia com toda a sua complexidade e reveladora
de desafios enormes na análise da territorialidade e gestão do território; e mais do que isso,
permite perceber o papel estratégico (e limitações) do Estado brasileiro em engendrar um
novo modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia.
A partir das trocas de idéias com Bertha e com alguns amigos a partir de junho deste ano,
logo após a Rio+20, eu decidi levar a cabo uma série de discussões dentro do INCT
Biodiversidade e Uso da Terra que coordeno, sobre a obra da Profa. Bertha e o impacto de
suas proposições inseridas em diversas políticas públicas para a Amazônia. Assim, o PAS, o
Plano BR 163 Sustentável, o MacroZEE, as políticas de C&T e o Ordenamento territorial e
ambiental para a Amazônia estão sendo discutidos nos Simpósios.
O terceiro e último Simpósio, então, será feito no Museu Goeldi, em Belém do Pará, em maio
deste ano (data a confirmar) e será organizado em duas mesas redondas, tendo como temas
principais, as propostas de Bertha Becker de inserção das dimensões humanas e territoriais
nos programas do MCT (como o LBA, Geoma, Projeto Cenários, etc.) e os desafios da
Revolução Beckeriana, que seria "uma verdadeira revolução científica enfocada na
biodiversidade nacional, e em especial na biodiversidade da Amazônia" (Charles Clement,
2003). Neste último aspecto, Bertha em seu mais recente paper denominado “Amazônia:
Crise mundial, Projetos globais e Interesse Nacional" publicado na Revista Territórios, em
2012, propõe renovar o quadro institucional de C&T na Amazônia, com a criação do Instituto
do Coração da Floresta, criação de Parques Tecnológicos e criação do Madeiramazon. Será
possível? De que forma e com quem contamos? O que é possível hoje fazer na AMAZÔNIA para
revolucionar a ciência que aqui é praticada rumo a um novo padrão de desenvolvimento?
Certamente que as discussões serão calorosas e ofertarão insumos ao debate nacional sobre o
tema. Aguardem mais detalhes sobre a programação no site do INCT (http://saturno.museugoeldi.
br/inct/)
Saudações cordiais,
Ima Vieira
Pesquisadora Titular do Museu Goeldi
Coordenadora do INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia

sexta-feira, 8 de março de 2013

Notícia sobre o II SIMPÓSIO

Matéria publicada no Jornal Brasil (http://www.jornalbrasil.com.br/)


A geógrafa Bertha Becker defendeu nesta quinta-feira (7) o diálogo entre ciência e políticas públicas para a Amazônia, destacando o aspecto da integração como elemento central na discussão, diante das inúmeras ações feitas na região sem alcançar o sucesso almejado.

“O diálogo é urgente. Isso porque são muitos planos sucessivos e planejados e não efetivamente construídos. Falta uma política que costure isso”, afirmou a pesquisadora, que se define como uma geógrafa política.
Para tanto, acrescentou Bertha, ainda é preciso implementar um padrão de desenvolvimento que transforme as tendências globais em oportunidades, de forma não predatória, e superar o falso dilema entre conservação entendida como preservação intocável e a utilização entendida como destruição.
“Produzir para conservar é a meta para o novo paradigma científico e tecnológico”, disse, ao lembrar outras questões a serem consideradas, como os conflitos de interesses na região.
As considerações foram feitas em videoconferência realizada no segundo simpósio da série de encontros promovida pelo Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG/MCTI), por meio do projeto INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O objetivo é discutir as propostas da pensadora por um novo modelo de desenvolvimento da Amazônia.
O encontro, realizado nesta quinta-feira (7), no Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), em Brasília, reuniu cerca de 50 especialistas - entre pesquisadores, gestores públicos e empresários - e contou com a participação do secretário executivo do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação, Luiz Antonio Elias e do secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento, Carlos Nobre.
Referência
Aos 82 anos, Bertha é apontada como referência na área. A carioca realizou sua primeira visita à Amazônia no fim dos anos 60 e, desde então, fez do bioma seu grande foco de pesquisa.
É doutora e livre-docente em geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e realizou o pós-doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT). Membro Academia Brasileira de Ciências, atua como consultora na formulação de políticas públicas para o MCTI e para os ministérios da Integração Nacional e do Meio Ambiente.
Luiz Antonio Elias lembrou as inúmeras contribuições da geógrafa em eventos do ministério, entre elas, a Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, que orientou a elaboração da Estratégia, Nacional de Ciência e Tecnologia (2012-2015).
O secretário ressaltou o pensar a ciência e a tecnologia de forma inclusiva para a Amazônia com olhar nas dimensões econômica, social, espacial e territorial. “Isso trouxe elementos importantes para que desenvolvêssemos políticas públicas pensando a inovação como um processo inclusivo”.
Em sua apresentação, Carlos Nobre traçou um esboço do programa Estruturante para a Amazônia, que vem sendo desenhado por sua pasta, pela Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Setec) do ministério e por instituições de pesquisa. O programa, com foco na formação e na inovação, considera recomendações da pensadora.
“Bertha trouxe contribuições que nos iluminaram para entender no que precisamos avançar em ciência e tecnologia na Amazônia nesse contexto de enorme diversidade étnica, cultural e biológica”.
O presidente do CGEE, Mariano Laplane, ressaltou o legado “rico e original” para nortear as discussões sobre a Amazônia, ao contemplar vários pontos de vista. “Formular políticas públicas exige ser capaz de focar, diferenciar e calibrar cada uma das ações públicas e com uma visão que incorpore o conhecimento acumulado com a combinação de múltiplos saberes”.
Os problemas socioeconômicos regionais, a falta de mão de obra qualificada e de um marco regulatório que permita o acesso adequado à biodiversidade também pontuaram as discussões no CGEE.
A primeira rodada do encontro que discute as propostas de Bertha Becker, e que funciona como uma oficina entre especialistas para a elaboração de um plano para o desenvolvimento da Amazônia, ocorreu em janeiro, na sede do BNDES, no Rio de Janeiro. O próximo encontro ocorre em maio, em Belém.