terça-feira, 6 de novembro de 2012

Bertha Becker: Amazônia precisa é de uma economia


«A Amazônia precisa de desenvolvimento econômico, não apenas de proteção ambiental.» A afirmativa foi feita pela geógrafa Berta Becker, professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), durante o seminário “A Gestão da Amazônia”, realizado na Universidade de São Paulo (USP).
A Amazônia já é verde
Becker, que é uma das maiores especialistas em assuntos amazônicos, criticou a ênfase no combate ao carbono nas abordagens sobre a região e defendeu o estabelecimento de um forte setor produtivo: «Na Amazônia não há uma base econômica organizada, não existem praticamente cadeias produtivas… A verdade precisa ser dita: neste sentido, a Amazônia não mudou nada.» (Valor Econômico, 17/03/2011)
Para ela, crítica do conceito de “economia verde”, «a Amazônia já é verde. O que ela precisa é de uma economia».

Basta pagar para não haver desmatamento?
A geógrafa também teceu críticas à implantação do mecanismo de Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação (REDD) na região, afirmando que tal iniciativa é um retrocesso para o desenvolvimento: «O nosso problema é fazer um esforço para o desenvolvimento da região. E aí vou pegar REDD para não desmatar?… Com REDD não ataco a causa do desmatamento. É um balde de água fria no estímulo deste desenvolvimento novo.»
O mecanismo REDD, um dos carros chefe do aparato ambientalista internacional para países como o Brasil, contempla compensações financeiras para evitar o desmatamento, alegadamente, para combater as emissões de carbono que seriam responsáveis pelo aquecimento global. Evidentemente, a perspectiva de receber recursos financeiros do exterior tem funcionado para alguns como um atrativo maior do que a preocupação com as emissões. No seminário, o superintendente geral da Fundação Amazônia Sustentável, Virgilio Viana, se manifestou: «A valoração de serviços ambientais é a melhor oportunidade da história da Amazônia. Temos que colocar dinheiro na floresta.»

Eles pagam para continuar poluindo…
Em última análise, o REDD implica em um pagamento a terceiros para que os países industrializados possam manter as suas cotas de emissões (leia-se consumo de combustíveis fósseis); ou seja, aceita-se dinheiro em troca do subdesenvolvimento.

E nós não nos desenvolvemos
Como afirmou Becher, aceitar dinheiro para inibir o aproveitamento econômico produtivo da região é um erro, pois a Amazônia precisa de muito mais do que de programas de combate a emissões: «A floresta é riquíssima. E esta riqueza está sendo negligenciada em função da ênfase no mercado de carbono. O mais importante é mudar o padrão de desenvolvimento da região. E não ser pago para não desmatar.»
Outro convidado presente no evento a manifestar críticas no mesmo tom de Becker foi Ricardo Abramovay, professor titular do departamento da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP. O pesquisador criticou a extrema carência de infraestrutura que da Amazônia, ressaltando que somente 12% dos domicílios têm acesso a saneamento básico e o acesso à água potável e à eletricidade são escassos.

Não há investimentos na Amazônia
Por fim, Abramovay e Becker questionaram a falta de investimentos em ciência na região, cujos institutos de pesquisa vivem em extrema precariedade de recursos. Segundo Bertha, o fato de o país possuir um grande mercado interno é prova de que podemos desenvolver competitividade em setores estratégicos para a região, como a indústria de fármacos.



Movimento de Solidariedade Íbero-americana
Créditos: este post é matéria apresentada no Boletim Eletrônico MSIa INFORMA, do MSIa – Movimento de Solidariedade Íbero-americana, Vol. II, Nº 44, de 18 de março de 2011. Introduzi subtítulos no texto para facilitar e incentivar a leitura.
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